JUVENTUDE CONSERVADORA DA UNB

JUVENTUDE CONSERVADORA DA UFSC

domingo, 27 de outubro de 2013

Somos bons guardiães da Universidade Pública?

Somos bons guardiães da Universidade Pública?
“O que está acontecendo é que a eleição do reitor virou uma eleição partidária, com cartazes, com ofertas de vantagem, de emprego, com suborno para conquistar o voto de funcionário e o voto dos alunos. Para evitar essa corrupção tem que deixar essa escolha para os professores. Eles são responsáveis e têm que ser responsabilizados. São eles que fazem o corpo de governo da universidade, é assim no mundo inteiro. Aqui foi partidarismo, sectarismo e corporativismo que fizeram diferente.”

Peço desculpas por iniciar, de novo, uma carta com uma frase de Darcy Ribeiro. A verdade é que Darcy Ribeiro morreu! Assim como Anísio Teixeira e outros grandes nomes que tentaram construir uma grande Universidade – eles procuraram fazer a parte deles em vida. Pedi desculpas aqui porque, na verdade, embora não tenhamos atualmente substitutos à altura, nós, os vivos, é que deveríamos estar fazendo a nossa parte – eles não têm mais condições de fazer nada de onde estão.

Na última sexta-feira, o CONSUNI aprovou uma eleição paritária para reitor. O CONSUNI foi construído com 70% dos votos dos docentes, porque quem o construiu assim considerou que a Universidade funcionaria melhor se os docentes – mais experientes e com maior conhecimento nas questões da Universidade – tivessem posição predominante nas decisões de mais alto nível na Universidade. Essa convicção foi sempre expressa de forma veemente por Darcy Ribeiro e por outros de mesma estatura. Ela não veio de inclinações autoritárias nem de idealizações sem fundamento empírico – veio da experiência de quem já tinha criado e administrado várias universidades e conhecia a fundo a história da Universidade no mundo.

Pois bem, apesar de um plebiscito da Adunb ter revelado que 80% dos docentes é contra a eleição paritária, o CONSUNI a aprovou na última sexta-feira. Pior, o vez convocando a reunião dois dias antes, enviando os documentos aos conselheiros no dia anterior, e votando o polêmico assunto em apenas uma reunião [Nota do MHL: onde muitos conselheiros nem tinham onde sentar, pois dezenas de assentos estavam ocupados pela Falanges fascistas de ultra-esquerda que não são membros do conselho], inviabilizando qualquer discussão nas unidades da Universidade.

Então, iniciamos novamente a loucura. O que veremos agora será um espetáculo eleitoral deprimente, que, parece, dividirá de forma ainda mais severa o corpo docente e a comunidade universitária.

Com tudo isso, fico com uma dúvida. O modelo da Universidade, com colegiados e conselhos, está embasado na pressuposição de que os professores são naturais defensores do interesse da Universidade e da Sociedade em geral. Sempre tive convicção disso. Ultimamente, comecei a ter sérias dúvidas. Hoje, tenho dúvidas, também, se até mesmo os próprios docentes deveriam estar escolhendo o reitor por voto universal. Me pergunto também quando será que a Sociedade – a proprietária legítima da Universidade – começará a ter as mesmas dúvidas?

Qualquer docente, quando está em uma Assembléia Sindical, tem todo o direito de lutar por seu salário e por melhores condições de trabalho. Entretanto, quando esse mesmo docente está em um Conselho, sua função é defender o interesse da sociedade e da Universidade – esse é um pressuposto básico do modelo de colegiados, sobre o qual a Universidade está fundamentada.

Minha pergunta a todos é: isso está mesmo acontecendo? E, retornando ao título desta mensagem, será mesmo que estamos nos mostrando defensores adequados de uma universidade de qualidade?

Para concluir, volto à frase inicial, de Darcy Ribeiro: será que o que vamos ver na campanha eleitoral que se inicia será “partidarismo, sectarismo e corporativismo” ou “ofertas de vantagem, de emprego, com suborno”? Veremos candidatos oferecendo o que não lhes pertence (ex: turnos de trabalho com horas a menos ou outras vantagens)? Vamos ver, como comumente ocorre, cenas de violência, campanhas de difamação e ataques pessoais?  Por fim, vamos eleger, mais uma vez, um reitor cujo grupo possível de colaboradores será restrito a uma pequena parcela da comunidade universitária?

Como eu disse antes, Darcy Ribeiro está morto! Não tem mais obrigações com a UnB! Será que surgirão outras pessoas que levantarão sua voz contra práticas que têm levado à degradação cada vez maior da nossa universidade?

Saudações,

Prof. Adson Ferreira da Rocha
Departamento de Engenharia Elétrica – Faculdade UnB Gama

Artigo publicado originalmente no blog Ciência Brasil.

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